quarta-feira, 29 de julho de 2009

Entre medos e ousadias, uma carta pedagógica

por Rosane Zimmer

O conhecimento é uma coisa
que exige muitas coisas de nós,
que nos faz sentir cansados,
apesar de felizes.
e não é uma coisa que
apenas acontece
(SCHOR ; FREIRE, 1987, p.101)[1]


Queridas Meninas,

É com o coração molhado de orgulho que escrevo minha primeira carta pedagógica do ano letivo de 2003.

Um orgulho que atribuo à ousadia que vocês tiveram em topar essa loucura pedagógica, em partilhar o que estão aprendendo e ensinando em Matemática.

Meninas, o trabalho foi lindo, ou melhor, está sendo lindo. Penso que o exercício de dialogar descobertas, de trocar, de partilhar conhecimento, potencializa-se na medida em que nos desprendemos de uma a-cultura que acredita que educadores e educadoras apenas fazem aula. Como sujeitos históricos, aprendemos, descobrimos e por que não, também anunciamos nossas aprendizagens.

Nóvoa (2001)[2] acredita que o melhor lugar para aprendermos é na própria escola e a que “a produção de práticas educativas eficazes só surge de uma reflexão da experiência pessoal partilhada entre colegas” (p. 8). Penso que estas experiências de diálogo com as nossas colegas e nossos colegas contribuíram no sentido de um fortalecimento de laços mais pedagogicamente construídos. Em laços que, por sua vez, irão construir novas redes coletivas originárias da recusa do individualismo, do isolamento do trabalho docente, em que muitas vezes nos vemos contagiados.

A ousadia que durante nossos estudos veio perseguindo vocês, é a resposta de uma não sujeitação a uma educação que, pela sua fragmentação, insiste em negar a reflexão coletiva da prática. A ousadia que partilhada provocou reflexões sobre o fazer pedagógico no cotidiano de nossas colegas é, mais uma vez, a prova de que nosso grupo de educadoras e educadores é simplesmente comprometido, pois nossas colegas das séries iniciais, nossas colegas e o nosso colega das séries finais ficaram atentos a cada fala, a cada problematização que provocadas por vocês faziam emergir outras novas descobertas eum outro novo apelo: é preciso que reinventemos nossa prática, é preciso romper com o eletismo de uma educação que fundada no fracasso, se volta contra as classes populares e faz romper com o direito de também aprender, de ter uma educação digna e de qualidade.

Romper com esta a-educação, acredito que é o que viemos em movimento pleno de aprendência. Não sabemos as fórmulas, as etapas, as receitas... apenas sabemos o que queremos... As formas de alcançar nossas utopias vão se construindo a partir dos nossos jeitos, que trêmulos, nervosos, tímidos, inseguros, que com mãos suadas, com dores no pescoço,... vão cativando, contagiando outros e outras que, como nós, estão também plasmados de uma educação libertadora.

Prá ti, BEA, que com o sorriso tímido e com a voz meiga, nos dá a todos e a todas verdadeiras lições de sabedoria.....,
Prá ti, ISOLDA, que vem nos contagiando pela alegria, pela curiosidade, que de tão epistemológica, te provocou em aprender e em nos ensinar Vygotsky....,
Prá ti, MARLENE, que com uma garra impressionante nos ensina que é preciso não estar conformada com a nossa prática e de que é possível sermos ainda muito mais....,
Prá ti, ROZANE, que com muita inteireza, vem num estágio rigorosamente comprometido com a tua prática e com a teoria que vens construindo....
OBRIGADA pela tarde em formação !
Beijos às MENINAS, que entre medos e ousadias nos encantaram!
ROSANE ZIMMER
TARDE AMENA DE SÁBADO NA CIDADE DE CANOAS, 23 DE AGOSTO DE 2003.





[1] Obra organizada a partir de diálogos entre Ira Schor – educador estadunidense, estudioso e crítico dos rumos da reforma da educação do seu país- e Paulo Freire com o título MEDO E OUSADIA: o cotidiano do professor.
[2] O português Antônio Nóvoa é um dos maiores especialistas do mundo em formação de educadores e educadoras. Atualmente é catedrático da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Lisboa e presidente da Associação Internacional de História da Educação. Dados extraídos da Revista Nova Escola, n.º 142, maio de 2001.

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