terça-feira, 15 de setembro de 2009

Memória Fórum Social Mundial 2003



Participação da escola Cônego no FSM/2003 PORTO ALEGRE

20.02.2003
Oficina: a vivência na pesquisa sócio-antropológica e seus desdobramentos no cotidiano educativo
“ Quando a gente diz: a luta continua, significa que não dá para parar. O problema que a provoca está aí presente. É possível e normal um desalento. O que não é possível é que o desalento vire desencanto e passe a imobilizar. A expressão a luta continua sublinha a continuidade histórica. Quando estamos na luta, sentimos o gosto de ver a utopia encarnada, o prazer, a alegria fabulosa de fazer a escola pública popular.A grande questão ao avaliarmos nossas ações é que se faz o que se quer, mas o que se pode. Uma das condições fundamentais é tornar possível o que parece não ser possível. A gente tem que lutar possível o que ainda não é possível. Isto faz parte da tarefa histórica de redesenhar e reconstruir o Mundo. ” PAULO FREIRE.

Organização: Escola Estadual de Ensino Fundamental Cônego José Leão Hartmann/Guajuviras- Canoas/RS
Título: a vivência na pesquisa sócio-antropológica e seus desdobramentos no cotidiano educativo
Data: 27.01.03 local: prédio 40 sala: 609 horário: 14h/17h

PROPOSTAS ENCAMINHADAS A PARTIR DA OFICINA
Apresentação: Socializamos ao longo da oficina um pouco do movimento que vem tomando abrigo na Escola Cônego. Uma escola pública, estadual, de periferia. Uma escola que vê, através da pesquisa de sua comunidade, a possibilidade de concretização de sonhos e ideais que contribuam com a redimensão histórica-social-ética-política da ação transformadora de educação.Esse processo se deu calcado no amadurecimento de idéias, na percepção das infinitas contradições de um grupo onde as indagações remeteram a socialização do trabalho da e na Escola e, portanto, passível e possível de ser problematizada, de ser ressignificada através de uma contínua curiosidade epistemológica por parte dos sujeitos envolvidos.O relato iniciou, contextualizando o bairro onde está inserida a escola, o Guajuviras. Abarcou as origens do mesmo, o processo de ocupações, a constituição das diferentes vilas, setores e comunidades que o vêm constituindo.A seguir, foi possível uma reflexão sobre os momentos que vêm expressando a história da escola, .... um questionamento sobre quando esta começou a obter a compreensão sobre seu papel, do seu lugar, o seu verdadeiro compromisso com a comunidade do Guajuviras - o qual se acredita que foi ao longo de um tempo em que a Escola vem se constituindo -. Não em um ou outro determinado momento, mas sim, em diversos momentos: quando não mais encontrava respostas; quando se enxerga e começa a questionar a sua identidade; quando os referenciais teóricos começaram a constituir fonte indagadora da prática; quando, através de uma postura curiosa da sua ação – ao longo dos seus onze anos a Escola – o grupo de educadores e educadoras começa a re inventar o próprio trabalho; quando começou a insistir na possibilidade de alterar a ação educativa, cruzando, então com o processo da Constituinte Escolar.A partir daí, o registro do início do processo da Constituinte Escolar – com muitos tropeços, muitos avanços que se fizeram presentes ao longo da trajetória, mas a convicção, o objetivo e a postura não se alteraram –. Um processo permeado de curiosidades, companheirismo, comprometimento de um grupo. A primeira intenção deste grupo foi reconhecer o próprio espaço, indo a campo, pesquisando e historiando o bairro, a Escola, as práticas. Questionou junto à comunidade sobre o papel que deveria desempenhar – o que de certa forma um pouco assustou, pois a mesma não estava preparada para tamanha expectativa o que ao mesmo tempo a fez refletir sobre como preparava – se estava preparando - o aluno “para a vida”, “para ao trabalho”, “para o vestibular”. O grupo tencionou diversas vezes na compreensão do Projeto Constituinte Escolar , discutindo como o coletivo o que entendia pela avaliação, pela a aprendizagem, pela própria educação, por disciplina, por moradia, por conhecimento, por mercado de trabalho, por evasão, por democratização, por repetência, por saúde, por cidadania, por violência, por relações de poder, “a escola que temos” e “a escola que queremos” e “a escola que podemos ter”...O relato prossegue na expectativa de registrar o compromisso com o processo de construção e de sistematização do PPP, da pesquisa sócio antropológica, do Regimento Escolar que através da contribuição e a compreensão da obra de Paulo Freire oportunizou um comprometimento com o sonho, com um referencial teórico libertador e com um verdadeira realidade da comunidade escolar.O comprometimento como elemento fundamental à prática que se pretende desenvolver não pode ser restrito apenas a um grupo de profissionais envolvidos com o ato de educar, é algo bem mais grandioso, é algo que deve envolver todos aqueles e aquelas que de uma forma ou de outra pontuam presença na prática educativa da escola. Todos aqueles e aquelas que acreditam no potencial latente de crianças, dos jovens e dos adultos que vivem em periferia, em classes populares...que sonham com seus super-heróis , que brincam de pipa, de carrinho de mão, que jogam futebol no campinho, que trabalham, que cuidam dos irmãos menores, “ajudam em casa” , que constituem novas famílias, novos horizontes, novos sonhos...A partir daí, segue o relato do processo da PESQUISA SOCIOANTROPOLÓGICA como ponto de partida para a organização do ensino por complexo temático. A vivência da pesquisa encarada como uma “potência pedagógica” na construção do caminho para a problematização da prática docente e da reinvenção do ensino, na perspectiva da educação popular. A possibilidade de que com a pesquisa as práticas se fortaleçam a partir de compromissos com o “inédito-viável”. A pesquisa não se reduzirá apenas à ida a campo, e sim, a um processo não linear onde a função do educador se problematizará a partir de uma nova compreensão da ciência, da razão, da emoção, da insegurança, da esperança, do medo, da coragem, da luta, da investigação, da experiência, do compromisso com a democratização e inclusão de conhecimentos e de indivíduos mergulhar na verdade, na construção política, na construção democrática, é defender espaços de cidadania. O registro propôs os vários movimentos da pesquisa – a opção pela pesquisa, a primeira ida a campo, o registro da vivência, a construção do instrumento de pesquisa, a segunda ida a campo, as reflexões de alunos, professores, funcionários, os dados e a categorização destes dados, a construção da rede temática, o planejamento, a avaliação.A Escola, assim, vem desenvolvendo uma atitude investigativa da sua cotidianedade, da sua realidade, da sua comunidade. Assumiu essa tarefa escolar na tentativa de reverter o parâmetro vigente, onde não mais as salas de aula, o pátio escolar compreendem a formação dos seus indivíduos, os seus sonhos, os seus anseios.Assumindo autorias... propondo mundos possíveis a partir dos caminhos vividos na educação popular “(...) como impossível seria sairmos na chuva expostos totalmente a ela, sem defesas, e não nos molhar...Não posso ser professor sem me por diante dos alunos, sem revelar com facilidade ou relutância minha maneira de ser, de pensar politicamente. Não posso escapar à apreciação dos alunos...Daí, então que uma de minhas preocupações deva ser a de procurar aproximação cada vez maior entre o que digo e o que faço, entre o que pareço ser e o que realmente estou sendo...Minha presença de professor , que não pode passar desapercebida dos alunos na classe e na escola, é uma presença em si política. Enquanto presença não posso ser omissão, mas um sujeito de opções. Devo revelar aos meus alunos a capacidade de analisar, de comparar, de avaliar, de fazer justiça, de não falhar à verdade. Ético, por isso mesmo, tem que ser o meu testemunho.”FREIRE,1996. P.108-110 O movimento de reestruturação curricular comprometido com a educação popular libertadora exige que aprofundemos a pesquisa participativa com outras ações que garantam a continuidade dos processos investigativos “na” e “com” a comunidade. Assumir processos formativos que sustentem os sujeitos Educador, Educadora, Educando e Educanda Pesquisadores, re-educando nosso olhar, escuta e sensibilidade para os múltiplos processos culturais que são gestados constantemente no cotidiano. Especialmente, sensibilizar a comunidade para reconhecer sua identidade para além dos processos de exclusão social, reconhecer suas potencialidades generosas de resistência frente a vida. A potência transformadora das falas oriundas da pesquisa, do escuta atenta e curiosa do cotidiano escolar se configura como uma possibilidade fecunda de contribuição na conscientização dos diferentes sujeitos na perspectiva local e global A escola assume um estreitamento de parcerias com suas co-irmãs, encorajando a troca de experiências em relação aos processos emancipatórios.
PARTICPANTES:
ROSANE ZIMMER, DARLENE DE PAULA DOS SANTOS, PAULA MEURER,MARLENE LOPES, TEMIS GERMANO, FLAVIO BUSNELLO, NÍRIA SIQUEIRA